Nesta quarta-feira, 8 de março, data em que se comemora o Dia Internacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras, as mulheres do mundo inteiro param as suas atividades para publicizar as desigualdades e a violência de gênero e contra o recrudescimento do conservadorismo no mundo todo.
Convocado por feministas históricas como Angela Davis e Nancy Fraser – e inspirado pelo coletivo feminista #Ni Una Menos (tradução livre: Nem uma a menos) -, o protesto acontece em mais de 50 países do mundo. Estados Unidos, Rússia, Islândia, Itália, Inglaterra, Polônia, Peru, Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Brasil são apenas alguns dos países que as mulheres aderiram a paralisação e manifestações.
Aqui no Brasil, durante todo o dia, mulheres em mais de 60 cidades brasileiras se manifestam por meio de atos, paralisações, apitaços, manifestações nas redes sociais – com as hashtags #8MBR e #EuParo –, e usando roupas na cor roxo/lilás contra todos os tipos de violência que incidem sobre as mulheres, entre eles, as contrarreformas da Previdência e Trabalhista que estão em curso no Congresso Nacional.
A contrarreforma da Previdência, que tramita como Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/16, pretende igualar o tempo de contribuição de homens e mulheres, ignorando o fato de que mulheres realizam dupla e até tripla jornada de trabalho. Eles e elas só poderão se aposentar com, no mínimo, 65 anos de idade e 25 de contribuição. Já a contrarreforma Trabalhista, Projeto de Lei (PL) 6.787/16, que prevê regras de contratos temporários de trabalho e prioriza o negociado sobre o legislado em relação a alguns direitos (inclusive os contidos na Consolidação das Leis do Trabalho), terá graves consequências às mulheres, uma vez que permite a jornada de trabalho por até 220 horas mensais, abrindo a possibilidade de turnos de 12 horas por dia.
Na Itália, os sindicatos convocaram uma paralisação de 24 horas nos serviços de transporte público, ferroviário e aéreo, além das escolas e dos atendimentos de saúde. Além de diversos protestos contra as demissões que ocorrem no país e os casos de feminicídio no país. Recentemente, a Corte Europeia de Direitos Humanos condenou a Itália por não ter tomado medidas rápidas para interromper atos de violência cometidos por um homem contra sua esposa e filho.
Já na Argentina, as mulheres realizam uma grande paralisação e mobilização em defesa de seus direitos. Entre as reivindicações das mulheres estão a defesa da condição de vida das trabalhadoras, o apoio à ocupação de toda fábrica que feche ou demita trabalhadoras, o fim da violência contra a mulher, salário igual para trabalho igual, creches, socialização das tarefas de cuidado, e o reconhecimento das tarefas domésticas como trabalho.
Olgaíses Maués, 3° vice-presidente do ANDES-SN e encarregada das Relações Internacionais do Sindicato Nacional, afirma que a data 8 de março é de extrema importância na luta contra a opressão sobre as mulheres que, segundo ela, está diretamente relacionada com o capitalismo.
“A opressão que a mulher sofre é histórica e está diretamente relacionada com a sociedade capitalista que vivemos, que tem como pilar propriedade privada e o casamento. O 8 de março marca esse dia tão importante, que é de luta contra a opressão às mulheres. Tivemos muito avanços, mas eles não significam que temos uma sociedade na qual as mulheres têm os mesmos direitos que os homens. Ainda temos salários desiguais, e o machismo segue presente nas relações. É inacreditável que ,em pleno século XXI, estejamos falando ainda em mulheres estupradas, espancadas e assassinadas”, critica.
Dia Internacional de Luta
O dia 8 de março foi fixado a partir de uma greve iniciada em 23 de fevereiro (calendário russo) de 1917, na Rússia. Uma manifestação organizada por tecelãs e costureiras de São Petersburgo foi o estopim da primeira fase da Revolução Russa. Militantes socialistas, como Clara Zetkin e Alexandra Kollontai, propuseram a construção de um dia internacional de luta das mulheres.
“Esta data sempre foi um Dia Internacional de Luta da Mulher Trabalhadora. Mas, este ano, a data se tornou maior devida à repercussão da manifestação das mulheres na posse de Donald Trump, que tomou grandes dimensões com protestos no mundo inteiro contra o presidente norte-americano. Juntando-se a isso, a divulgação nas redes sociais e as lutas protagonizadas no ano passado pelas mulheres na Argentina, e diversos países da América Latina, Polônia e Islândia, foi construído esta grande mobilização neste dia 8”, disse.
Dia Nacional de Luta contra a Reforma da Previdência
O ANDES-SN e a CSP-Conlutas orientam os docentes e toda a classe trabalhadora a participarem dos atos públicos nos estados – em unidade com entidades, movimentos sociais e populares, estudantes e toda a sociedade -, no Dia Internacional de Luta da Mulher Trabalhadora e Dia Nacional de Luta contra a Reforma da Previdência na perspectiva da construção da greve geral. A participação dos docentes no Dia Nacional de Luta em defesa da Mulher Trabalhadora foi aprovada no 36° Congresso do ANDES-SN, que ocorreu em janeiro deste ano em Cuiabá (MT). O Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) também indicou adesão ao 8 de março, assim como a data também foi aprovada pela coordenação da CSP-Conlutas.
“A nossa luta é política, tem recorte de gênero e classe. As mulheres das classes populares sofrem mais preconceitos, opressão, exploração dos patrões, e o ANDES-SN enquanto Sindicato classista que tem na sua base mulheres e homens tem feito essa defesa em direitos das mulheres em toda a sua história”, disse Olgaíses Maués, que chama atenção para a discriminação sofrida pelas mulheres acima dos 60 anos.
“Como mulher preciso registrar também que essa é a primeira geração de mulheres acima de 60 anos, que está ativa no mercado de trabalho e com disposição para lutar – já que nossas antecessoras não podiam disputar estes espaços por questões sociais e de saúde. Entretanto, vejo que somos discriminadas e julgadas como incapazes de desenvolver certos trabalhos e de estar dentro de espaços combativos, taxadas de ultrapassadas e isso não ocorre com os homens. O ANDES-SN precisa estar nessa luta em prol das mulheres acima de 60 anos”, concluiu a diretora do Sindicato Nacional.
Saiba Mais
Mulheres do mundo inteiro organizam greve geral para o dia 8 de março
Com informações da Agenzia Nazionale Stampa Associata (ANSA), Izquierda Diário e Blog do Sakamoto
Fonte: ANDES-SN