Neste dia 21 de agosto, a Força Nacional e as Forças Armadas se posicionaram e ocuparam os principais acessos das comunidades do Jacarezinho, Manguinhos, Bandeira 2, Mandela, Arará, Complexo do Alemão e no Conjunto Habitacional Morar Carioca. Todas estas localidades e bairros estão na Zona Norte da cidade.
Mais um castigo para a comunidade do Jacarezinho, que já chega ao seu décimo dia de ocupação pelas polícias civil e militar, contabilizando 15 pessoas atingidas por armas de fogo com 8 mortes. Houve duas mortes e pelo menos três pessoas baleadas ainda na noite do dia 19. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), três pessoas foram baleadas e foram socorridas pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Manguinhos, neste dia.
Entre as vítimas, Adriane Silva, de 22 anos, baleada na cabeça, segue em estado grave no Hospital Estadual Salgado Filho, no Méier. A SMS confirmou ainda que Georgina Maria Ferreira, de 50 anos, morreu na UPA de Manguinhos após ser baleada (também na cabeça) em confronto na comunidade. Outra foi ferida por estilhaços, medicada e liberada em seguida. Ainda na ocasião, um homem identificado apenas como Hugo, de 24 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu antes de chagar à UPA de Manguinhos. Hugo também foi baleado na cabeça.
Na véspera, cerca de 12 horas antes da ocupação dos acessos realizado pela Força Nacional e as Forças Armadas, ocorreram duas manifestações: uma organizada pelos moradores de Manguinhos exigindo o fim do genocídio que já computa um total de quase 1,3 mil pessoas. Este número de vítimas de disparos de armas de fogo nas comunidades mais pobres da cidade, ocorreu de janeiro de 2016 a março de 2017, segundo levantamento do feito pelo site UOL, através da Lei de Acesso à Informação.
A outra manifestação ocorreu na Praia do Recreio dos Bandeirantes, uma das áreas nobres da cidade, convocada e organizada por policiais que computam a morte de 97 agentes nos primeiros sete meses deste ano. Uma semana após o enterro do policial da Core, Bruno Guimarães Buhl, conhecido como Bruno Xingu, de 36 anos, amigos e parentes do agente foram ao posto 11 da praia do Recreio, na Zona Oeste do Rio, para protestar contra a morte de policiais no Rio de Janeiro. Esta manifestação contou com apoio de um helicóptero das forças policiais do Rio de Janeiro.
Genocídio contra negros e negras
O fato é que o Brasil vive a realidade de um país que assassina, de forma sistemática uma parte de sua população. Segundo dados do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, só no ano passado, 56.325 brasileiros foram vítimas de homicídio, numa média de 154 mortes por dia. O Brasil é o 7º lugar entre os países que mais matam no mundo, superando a realidade da guerra civil na Síria (149 mortes por dia), e do genocídio de Israel contra o povo palestino (66 mortos por dia). Uma em cada 10 pessoas assassinadas no mundo é brasileira.
Desde a grande ocupação realizada pelas Forças Armadas nas ruas cariocas, por ocasião da ECO92, há 25 anos, estas megaoperações militares se repetem sem produzir uma mudança de qualidade na segurança da classe trabalhadora. Muito pelo contrário. O tráfico de armas se consolidou nas últimas décadas. O comércio de drogas não diminuiu por aqui, nem em qualquer outro lugar do país ou do mundo, movimentando só no Brasil uma cifra de 15,5 bilhões de reais por ano. O consumo de drogas também não diminuiu, pelo contrário, mais que dobrou em menos de dez anos e já é quatro vezes maior que a média mundial, segundo dados do Conselho Internacional do Controle de Narcóticos, entidade ligada a ONU.
Da época da ECO92 até hoje, a cidade foi palco de megaeventos como Jogos Paraolímpicos, Olimpíadas e Copa Mundial de Futebol só para citar os maiores. Contudo, não houve aumento nos investimentos em mais moradias, ampliação em obras de saneamento ou obras de prevenção de enchentes, deslizamentos ou outros fenômenos naturais que prejudicam a vida na cidade maravilhosa. Nestes 25 anos houve redução do número de escolas, postos de saúde e hospitais públicos. Houve uma política de redução do estado através das privatizações e terceirizações que, na prática reduziram os direitos, atingindo a população mais pobre. A única política pública que prosperou no Estado e em sua capital foi a da criminalização através de incursões policiais, que levam terror às comunidades e aos trabalhadores. Essas incursões ocorrem há mais de duas décadas, por meses, quase todas as semanas, sem que nenhuma melhoria tenha ocorrido.
Comemoração ou tristeza
Oito horas após os primeiros soldados das Forças Armadas tomarem e bloquearem a saída de trabalhadores nas sete favelas, o Comando da Megaoperação comemora seu resultado. Apesar de acusar um vazamento que alertou “os traficantes” e “meliantes”, o Comando informa que 40 pessoas foram presas, entre elas o soldado do Exército Matheus Ferreira Lopes, de 19 anos, suspeito de vazar informações da operação anterior para “traficantes”. Além disso, a polícia apreendeu até aquele momento 300 quilos de maconha, dez de cocaína, duas granadas, munições e até máquinas de caça-níquel. O material apreendido e os detidos foram levados para a Cidade da Polícia, no Jacarezinho. Ainda segundo o Comando o objetivo da megaoperação conjunta teria sido prender 14 traficantes. No entanto, até o momento da Coletiva de Imprensa, feita pelos comandantes da Operação conjunta, ainda não havia informações se algum mandado de prisão expedido pela Justiça teria sido cumprido.
Conclusão: esta operação é criminosa. Ela gerou grandes consequências para a vida milhares de trabalhadores e da população. Os postos de atendimento da região como a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Manguinhos, todas as escolas e creches da região não abriram suas portas. Segundo o Jornal O Globo, cerca de 27 mil crianças deixaram ter aula. A prefeitura fechou 15 unidades escolares sem data para voltar a funcionar. As linhas de ônibus que circulavam pelo Jacaré e Jacarezinho tiveram o trajeto desviado, de modo que os trabalhadores não puderam sair de suas próprias casas.
O Estado nunca está presente para garantir condições básicas de vida para os trabalhadores e o povo que vivem nestas comunidades. O custo que os moradores pagam pela apreensão de 300 quilos de maconha, dez de cocaína, duas granadas, munições e máquinas de caça-níquel é muito elevado. O saldo de todos esses dias de invasão policial na favela, de sete moradores mortos e de todo o infortúnio desta megaoperação não se justificam. Entre as vítimas atingidas estão um feirante, um adolescente de treze anos, pelo menos duas mulheres, entre outros inocentes que tiveram suas vidas arrancadas por essa política absurda. Além dos mortos, há mais sete vítimas feridas que foram atingidas pelos disparos, algumas estavam dentro de suas casas ou circulando para ir ao trabalho.
Preparar uma alternativa
Agora, como nas experiências anteriores, o resultado é desastroso. O tráfico de armas segue garantindo o lucro dos fabricantes. Os empresários que controlam o comércio de drogas continuam lucrando. Vários parlamentares são pegos com aeronaves e fazendas com toneladas de cocaína e nada é feito contra eles. Extermina-se a juventude negra e pobre, enquanto nas fronteiras as drogas chegam ao país com ajuda de deputados e esquemas de corrupção que envolve todas as instituições dos três poderes da república. Nesse ano, por conta dessas e outras operações militares já morreram cerca de sete crianças atingidas por balas perdidas, entre elas Maria Eduarda, de 13 anos, morta dentro de sua escola, na mesma Zona Norte da capital.
Está na hora de dar um basta. É preciso que os trabalhadores preparem uma greve geral que pare a produção e circulação de mercadorias. É necessário superar as direções do movimento sindical e popular que tem dificultado a mobilização. Os trabalhadores podem e devem tomar em suas mãos a organização das próximas mobilizações para colocar para fora não só o prefeito da cidade, Sr. Marcelo Crivella, mas também o Sr. Luiz Fernando Pezão, governador do Estado e o Presidente Michel Temer.
A crise política e financeira que vivemos só poderá ser resolvida por uma alternativa que surja de nossa luta e mobilização. Uma greve geral tem o poder não só de colocar a quadrilha do PMDB, do PT e do PSDB para fora, como também acabar com a farra de todos os outros corruptos do Congresso Nacional e do Poder Judiciário.
Basta de violência contra os trabalhadores e o povo. Chega de genocídio contra o povo negro!
Pelo fim imediato do cerco militar e policial ao Jacarezinho e as demais comunidades!
Não à UPP! Pelo fim da Polícia Militar!
Abaixo esta política de segurança racista e elitista!
Chega de dinheiro para os banqueiros, para empresários e para as empreiteiras!
Suspensão imediata do pagamento da dívida pública e dos contratos fraudulentos!
Por um plano de obras públicas que garanta empregos e a construção de casas populares, escolas, hospitais e saneamento básico!
Pelo fim das isenções e revisão de todas as anistias fiscais!
Reestatização de toda a frota de ônibus, do trem, metrô, barcas e da CEDAE!
Não às demissões!
Estatização de todas as empresas que demitirem !
Confisco dos bens dos corruptos e corruptores!
Não aos cortes de verbas! Mais verbas para saúde e educação!
Romper com a lei de responsabilidade fiscal que impede o pagamento dos servidores e o investimento nas áreas sociais!
Redução dos altos salários dos políticos! Que os políticos recebam o mesmo que um professor!
Greve Geral para derrotar o ajuste fiscal!
CSP-Conlutas RJ