*Segue abaixo carta enviada a pedido do professor Milton Schivani (DCET)
Aos meus colegas, professores, estudantes e funcionários,
No dia 08 de setembro de 2014, em Itabuna, BA, a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) perdeu um de seus jovens estudantes. Com apenas 18 anos, esse discente tirou sua própria vida em um ato de desespero frente as pressões sociais e transtornos mentais. Um fato lamentável que não há palavras para descrever. Ecoa um sentimento de impotência!
Paradoxalmente, a mente humana apresenta uma complexidade maravilhosa e aterrorizante. Por trás de um sorriso singelo, de um aperto de mão e abraço amigo, pode haver rugidos de socorro. Sei muito bem que em nossas “correrias” do dia a dia fica difícil parar um momento e perceber os sinais. Como ajudar? Como ajudar chamando alunos de burros e incapacitados? Como ajudar sem um simples “bom dia!” sincero e espontâneo ao que limpa a escadaria por onde passamos? Como ajudar se escondo do meu colega de turma aquela informação que o ajudaria na disciplina e/ou na profissão? Como ajudar acreditando que minha tarefa, enquanto professor, é tão somente reproduzir o livro no quadro e, em caso de dúvidas, respondo “Se vira cara, o problema é seu, volta para o ensino médio!”? Como ajudar com atitudes mesquinhas e egoístas? De fato, não tem como ajudar assim, em uma realidade cada vez mais presente em nosso cotidiano pessoal e profissional, cheia de navalhas afiadas que podem causar a pior das cicatrizes: aquelas no espírito humano, escondidas em nosso ser e que, quando afloram, causam danos irreversíveis como o ocorrido com nosso aluno.
Amigos, cuidado! Não faltam exemplos de pessoas que invadiram escolas e causaram mortes por onde passaram. Será preciso chegar a esse ponto para algo mudar? Espero que não! Ao meu ver, assim como já ocorre em alguns setores (no setor militar, por exemplo), todas as universidades e centros educacionais deveriam ter uma equipe de psicólogos, capacitados e com suporte para trabalharem da melhor forma possível para acompanhar de perto professores, funcionários e estudantes. Mas como reclamar isso se não temos nem sequer um posto de saúde com médico de plantão? É difícil… Senhores administradores, sei que vocês precisam de ajuda (na sua mais ampla acepção) tanto quanto os demais, mas não ignorem mais esse problema da nossa atual sociedade. Professores, não defendo que passem a mão na cabeça de seus alunos, porém, não os humilhem e nem os denigrem!
Sozinhos não avançaremos! O stress é cada vez maior, as demandas e pressões sociais aumentam de forma vertiginosa, porém, a solidariedade e a generosidade parecem artigos de luxo, poucos de fato possuem.
Fica meu alerta e pedido de ajuda, um pouco mais de responsabilidade social, amizade verdadeira e tolerância entre nós não fará mal algum, pelo contrário, poderá salvar uma vida!
Com pesar,
Prof. Milton Schivani
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)
Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas (DCET)