A mobilização estudantil garantiu a inclusão do ponto na pauta da reunião realizada na ultima segunda-feira (26)
Com cartazes e palavra de ordem, estudantes realizaram uma protesto para reivindicar da administração da UESC um posicionamento efetivo para o Combate a Violência de Gênero na universidade. Após percorrer o campus, a manifestação seguiu para reunião do CONSEPE (Conselho Superior de Ensino Pesquisa e Extensão), e garantiu a inclusão do ponto na pauta, desdobrando na criação de uma comissão para elaborar uma política interna de combate a violência de gênero. A ação foi impulsionada pela denúncia da estudante de Enfermagem Roberta Idelfonso, que é obrigada a assistir aulas com um colega que a agrediu fisicamente durante um evento acadêmico.
A denúncia
A agressão sofrida por Roberta ocorreu no dia 12 de outubro, ultimo, em uma lanchonete em Jequié- BA, cidade em que os estudantes estavam para participar de um evento acadêmico. Após uma divergência sobre preferência de sanduíches, o agressor respondeu violentamente a uma colega, a qual Roberta tentou defender. “Foi então que me levantei para pedir para que ele não tivesse aquela postura e parasse com as agressões verbais, nesse momento o agressor me deu um tapa do lado esquerdo do rosto no qual me fez cair e ao tentar me levantar ele continuou a me agredir com chute”, explica Roberta em depoimento nas redes sociais.
Após a defesa imediata dos presentes, Roberta relata que começou uma verdadeira saga para efetivar a denúncia na justiça comum, mas que sua consciência sobre os dados que revelam a complexidade do machismo no Brasil não a tornaria “apenas mais um dado que vai engrossar as estatísticas”. No complexo policial Roberta foi orientada a voltar no dia seguinte porque naquela noite já “havia casos mais importantes”. Ela e sua mãe também já foram por diversas vezes ao batalhão em que o agressor presta serviço (ele é Policial Militar), mas não encontrou o corregedor responsável por receber a denúncia. E na UESC, a primeira resposta da Procuradoria Jurídica (PROJUR) ao Centro Acadêmico (CA) de Enfermagem foi que, por ter ocorrido fora da universidade não poderia ser feito muita coisa.
Mobilização
A sensação de impunidade levou Roberta e o CA a se organizar e mobilizar a comunidade acadêmica para cobrar da universidade uma posição para este e outros casos que são silenciados pela falta de estrutura adequada para receber as denúncias. Um protesto na reunião do CONSEPE (Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão) garantiu a criação de uma comissão para elaborar uma política de combate a violência de gênero na UESC. Na oportunidade, a Reitora Adélia Pinheiro informou que, após constatar que o deslocamento dos estudantes para o evento em Jequié se deu em transporte institucional, foi instaurado um inquérito para tratar do caso especificamente.
Para a estudante de história e membro do Movimento Mulheres em Luta (MML) Nathane Matos, a abertura do inquérito e a criação da comissão foram conquistas importantes, do movimento, mas a mobilização deve continuar. Ela também criticou a postura da reitora que afirmou ter ocorrido apenas um caso de violência de gênero na universidade durante a atual gestão. “A violência de gênero é muito complexa, as mulheres costumam ser responsabilizadas e a falta de estrutura adequada para acolher as denuncias faz com que as mantenham o silêncio, ou procurem o movimento para lidar com o problema.” Para combater esta situação, o MML criou uma página no Facebook em que estimula as mulheres a relatarem seus casos e romper com o silêncio, veja aqui.