Na última quinta-feira (26), cerca de 300 mil pessoas foram às ruas da França em mais um dia de mobilizações contra a Reforma Trabalhista proposta pelo presidente François Hollande. Não diferente dos protestos anteriores, que tiveram início há três meses, as manifestações sofreram dura repressão da polícia.
A ofensiva da classe trabalhadora tem ganhado mais corpo com greves e paralisações que têm afetado o fluxo econômico no país. O próximo grande ato deve acontecer no dia 14 de junho, dias depois do início da Copa Europeia de Seleções de futebol (Eurocopa), que acontecerá em nove cidades francesas.
Neste último dia de ação dos movimentos organizados, trabalhadores das usinas nucleares se juntaram a outra categorias já em greve e paralisaram a produção, provocando escassez de combustível.
Com o voto favorável para a greve nas 19 usinas nucleares do país, o governo já acionou as reservas estratégicas de combustível, utilizando, na última quarta-feira, três dos 115 dias de reservas disponíveis. Há longas filas nos postos de gasolina, que, em muitos casos, racionam a distribuição, e os depósitos de quase um terço dos postos de combustível estão secos ou quase vazios. A maioria dos funcionários das refinarias também está em greve.
O movimento de protesto também tem provocado interrupções nos transportes. A companhia ferroviária SNCF realizou na semana de luta a quinta paralisação da categoria desde março. O setor da aviação recomendou redução em 15% dos voos realizados na última quinta-feira para o aeroporto Paris-Orly.
Ajuste fiscal à francesa
Entre as propostas da Reforma Trabalhista estão o aumento da duração máxima do trabalho diário de 10 para 12 horas; aumento da jornada semanal máxima de trabalho de 48 para 60 horas; a diminuição do pagamento de horas-extras, atualmente obrigatoriamente pagas a 25%, passam a ter apenas valor mínimo de 10%; flexibilização dos acordos coletivos de acordo com os resultados da empresa; criação da “demissão econômica”, que pode ser invocada pela empresa em caso de problemas financeiros; e, por fim, a diminuição do seguro-desemprego para trabalhadores há mais de 15 anos no mesmo emprego.
Em 10 de maio, François Hollande, presidente da França, aprovou por decreto o projeto. Apesar do decreto presidencial impedir que o projeto seja apreciado pelos deputados franceses, a Reforma ainda deve ser debatida no Senado. A decisão de usar poderes constitucionais especiais para forçar a reforma, além de indicar que o governo não tem a maioria para aprovar a medida, revela a ruptura no governista Partido Socialista – muitos deputados da legenda de Hollande já haviam declarado ser contra a mudança. Essa é a segunda vez que o presidente francês usa da manobra do decreto para forçar medidas. Em 2015, o presidente emitiu um decreto para aprovar a reforma de liberalização de diversas atividades econômicas.
Edição de ANDES-SN
Fonte: CSP-Conlutas