#NãoFoiAcidente é uma das principais hashtags utilizadas nas redes sociais para definir a tragédia que teve início com o rompimento de duas barragens na cidade mineira de Mariana há aproximadamente 40 dias. Estima-se que 55 bilhões de litros de lama tóxica tenham sido despejadas deixando um lastro de destruição e morte. A expressão “Não foi acidente” é muito mais que uma hashtag! É um grito engasgado na garganta de todos nós.
Mas, por que é tão importante afirmar que NÃO FOI UM ACIDENTE? Se a tragédia de Mariana fosse um acidente, estaríamos diante de um acontecimento corriqueiro e uma vez resolvido o problema, poderíamos voltar tranquilamente à vida normal. A realidade não é essa nem de longe. Foi um CRIME. Um crime cometido conscientemente em nome do lucro. E é assim que os responsáveis pela maior tragédia ambiental de nossa história devem tratados e punidos: como criminosos! As mãos desses criminosos estão sujas de sangue de trabalhadores. Oficialmente, são dezesseis mortes e três desaparecidos. Essas vidas, que para eles não valem nada, são muito importantes para nós. E, as consequências não param por aí. A mineradora Samarco mente descaradamente ao dizer que as barragens continham apenas rejeitos inofensivos. As análises do Serviço Autônomo de Água e Esgoto comprovaram a presença de diversos metais pesados na água do Rio Doce, como arsênio, mercúrio e chumbo.
Estes elementos são extremamente tóxicos ao ambiente e à saúde. Ao ingerir carne ou folhas contaminadas, o metal pesado não é processado pelo organismo, envenenando o bicho ou pessoa que consumiu a comida intoxicada. Com o tempo, os metais pesados podem gerar problemas sérios à saúde, como câncer, úlceras e danos neurológicos. É alarmante!
Estamos falando também do fim da vegetação, pois a lama tóxica, longe de ser inofensiva, impede a infiltração da água no solo tornando o ambiente estéril. O Rio Doce está morto! As imagens dos peixes mortos boiando no rio não são apenas feias e desagradáveis, elas são a constatação de que o Rio Doce não pode ser usado de jeito nenhum para abastecer as diversas comunidades rurais, seja para uso pessoal, seja para irrigação das plantações ou consumo de animais. A enxurrada de lama passa por, no mínimo, 23 cidades de Minas Gerais, Espírito Santo e Sul da Bahia, o que representa meio milhão de pessoas com a torneira seca e risco de morte.
A postura dos governos federal e dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo tem sido de conivência com as manobras e mentiras da Samarco/Vale/BHP. O governo de Minas, em declarações de três de suas principais lideranças na área de meio ambiente, incluindo o governador, chegou a afirmar que a Samarco era a vítima do “acidente”, que o Rio Doce não estava contaminado e que não há risco de novas rupturas em outras barragens, quando a própria Samarco admitiu o contrário.
Para completar, acaba de aprovar em regime de urgência, na Assembleia Legislativa do estado, uma nova legislação que facilita a concessão das licenças ambientais para as mineradoras. A situação dos trabalhadores da Samarco, efetivos e terceirizados, também não é das melhores. A estabilidade no emprego foi garantida até o início de 2016. No entanto, a legislação garante essa estabilidade enquanto durar a parada de produção por conta do rompimento da barragem. E os trabalhadores correm o risco de não terem esse direito respeitado e a Samarco demitir durante as festas de final de ano.
O crime cometido pela Samarco/Vale/BHP colocou a nu as relações dessas grandes mineradoras com os políticos, financiados fartamente com dinheiro dessa corporação.
Por tudo isso, não vamos nos silenciar! Não vamos permitir que essa tragédia caia no esquecimento e que os responsáveis fiquem impunes. E, neste sentido, a realização do SEMINÁRIO NACIONAL EM SOLIDARIEDADE AOS TRABALHADORES E ÀS POPULAÇÕES ATINGIDAS é uma iniciativa da maior importância. Vamos impulsionar uma campanha internacional em conjunto com a Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Luta e a partir deste Seminário traçar estratégias para fortalecer o amplo apoio da sociedade que em conjunto com os movimentos sociais, populares, sindicais e estudantis que exigem punição exemplar para a Vale, Samarco e BHP Biliton.
Também é fundamental responsabilizar os governos que fazem vistas grossas para todo e qualquer mecanismo de regulamentação e fiscalização, afinal, recebem rios de dinheiro dessas empresas nas campanhas eleitorais. Este é um momento que nos exige disposição de luta para além da imensa dor e tristeza que sentimos diante de tamanha tragédia. Nossas vidas valem muito!
Informações sobre o Evento:
DATA/HORÁRIO: 17 de dezembro de 2015 (quinta-feira) – 13 horas
LOCAL: Instituto de Ciências Humanas e Sociais – UFOP – MARIANA/MG
Como participar? Inscrições gratuitas e obrigatórias através do e-mail suporte.mg@cspconlutas.org.br. Basta encaminhar nome completo e entidade.
Em breve divulgaremos a lista de palestrantes e mais detalhes sobre a programação.